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2011/11/01

Neurologia: Neuroanatomia e o que é Líquido Cefalorraquidiano!

Ventrículos Cerebrais: Nosso Lago Interno
Silvia Helena Cardoso, MSc, PhD
Nós temos água no cérebro e na medula espinhal. Por que? Primeiro, para sustentá-los e amortece-los contra choques. Segundo, para "limpar" resíduos do metabolismo, drogas e outras substâncias que se difundem no cérebro através do sangue, além de servir como meio de difusão de células de defesa imunológica e de anticorpos. Terceiro, para nutrir o epêndima e estruturas periventriculares.
O fluído do cérebro é chamado de líquido céfaloraquidiano (líquor) ou fluído cérebro-espinhal. O líquor é um líquido claro, com pequenas quantidades de proteína, potássio, glicose e cloreto de sódio. Se o crânio for subitamente deslocado, a densidade do líquor serve para reduzir o impacto entre o encéfalo e os ossos do crânio, reduzindo por meio disso, danos concussivos. Se o cérebro ou os vasos sanguíneos que o irrigam aumentam de volume, o líquor é drenado e diminui a pressão intracraniana, para manter o volume constante.
O crânio é como uma "caixa rígida". Quando a pressão intracraniana é aumentada (por injúria ou hidrocefalia), o crânio se torna excessivamente preenchido com tecido cerebral inchado, sangue, ou líquor e pode aumentar a pressão sobre o tecido cerebral. A pressão intracraniana aumentada pode causar mudanças nas respostas dos pacientes incluindo agitação, confusão, resposta diminuída, e coma.

O líquor circula no cérebro e medula espinhal através de cavidades especiais que constituem o chamado sistema ventricular (do termo em latim venter, cavidade). As cavidades são designadas como dois ventrículos laterais, o terceiro ventrículo e o quarto ventrículo. Comunicando os ventrículos laterais com o terceiro ventrículo encontram-se os forames ventriculares (um em cada hemisfério cerebral), enquanto o aqueduto de Sylvius comunica o terceiro ventrículo, situado no diencéfalo, com o quarto ventrículo, situado no rombencéfalo. Em cada uma das quatro cavidades ventriculares evagina-se um plexo vascular, responsável pela produção do líquor (o plexo coróide)
Os ventrículos laterais invadem os lobos frontal, temporal e occipital. Por isso, são considerados em cada ventrículo, três cornos: um anterior ou frontal, outro posterior ouoccipital e, finalmente, o inferior ou temporal.
Cada ventrículo contém o plexo coróide (tecido especializado dos ventrículos) que produz o líquor.
Ventrículo LateralSe houver uma obstrução em determinado ponto, o líquor se acumula e comprime o tecido nervoso vizinho de encontro à caixa craniana que o protege. Originam-se assim, casos de hidrocefalia, com sérios prejuízos das funções cerebrais. As cavidades ventriculares ficam excessivamente amplas, devido à estagnação do líquido em seu interior. Com isso, aumenta a pressão intracraniana
Partes do Ventrículo Lateral. Horn = cornoOs dois ventrículos laterais são os maiores de todos os ventrículos do cérebro.Seu formato é irregular. Cada um consiste de uma parte central, com cornos (horn) anterior, posterior e inferior.
Corno Anterior
(frontal)
É anterior ao foramen interventricular. Seu teto e borda anteriores são formados pelo corpo caloso, sua parede vertical medial, pelo septo pelúcido. O assoalho é formado pela cabeça do núcleo caudado.
Parte Central
Estende-se sob o corpo do corpo caloso. Medialmente, limita-se com a parte posterior do septo pelúcido. Abaixo, com partes do núcleo caudado, tálamo, plexo coróide e fórnix.
Corno Posterior (occipital)
Estende-se no lobo occipital. Seu teto é formado pelo corpo medular do cérebro.
Corno Inferior (temporal)
Atravessa o lobo temporal. Seu teto é formado pela substância branca do hemisfério cerebral. Ao longo da borda medial está a stria terminalis e a cauda do núcleo caudado. O núcleo amigdalóide forma uma saliência na parte terminal do corno inferior. O assoalho e a parede medial são formados pela fímbria, pelo hipocampo e eminência lateral.

À esq- secção transversal mostrando o plexo coróide (em roxo) nos ventrículos.
À direita- visão isomética dos ventríiculos mostrando também o plexo coróide.

Secção coronal do cérebro (visão posterior)
O plexo coróide (choroid plexus) do ventrículo lateral, é uma evaginação de vasos envolvidos pela pia mater (meninge protetora do cérebro) projetando-se na cavidade ventricular e cobertos pela camada epitelial de origem ependimal).
Um processo triangular de pia mater projetando-se para cima dentro do ventrículo lateral cobre a borda lateral do fornix e é conhecida como tela coróidea.Terceiro Ventrículo
O terceiro ventrículo (3rd ventricle) é uma estreita fenda vertical situada no diencéfalo. Ele possui um teto, um assoalho e quatro paredes: duas laterais, uma anterior e outra posterior.
O assoalho é formado pelo quiasma óptico, tuber cinereum e infundibulum, corpos mamilares, substância perforante posterior e parte superior do tegmento mesencefálico. A parede anterior é a delicada lâmina terminal. A pequena parede posterior é formada pela haste da glândula pineal e comissura habenular.

Secção coronal do cérebro (visão posterior)
O teto do terceiro ventrículo é formado por uma fina camada de epêndima. As paredes laterais são formadas principalmente pela superfície medial dos dois tálamos. A parede lateral inferior e o assoalho do ventrículo são formados pelo hipotálamo..
A massa intermédia é uma região de matéria cinzenta que cruza a cavidade do ventrículo juntando as paredes internas. As seguintes estruturas podem ser encontradas no assoalho do terceiro ventrículo (da terminação anterior a posterior): quiasma óptico, infundibulum, tuber cinereum, corpos mamilares e subtálamo.
Três aberturas se comunicam com o terceiro ventrículo: Os dois foramens ventriculares na terminação anterior se comunicam com os ventrículos laterais, e o aqueduto cerebral (de Sylvius) se abre na terminação caudal do terceiro ventrículo.
O foramen interventricular (forame de Monro) é uma abertura oval entre a coluna do fórnix e a terminação anterior do tálamo através da qual os ventrículos laterais se comunicam com o terceiro ventrículo. O terceiro ventrículo também se comunica com o quarto ventrículo através do aqueduto cerebral. A pequena adesão intertalâmica (massa intermédia) atua como ponte do estrito espaço ventricular.Quarto Ventriculo
O quarto ventrículo (4rd ventricle) é uma cavidade localizada posteriormente à ponte, à metade superior do bulbo, e anteriormente ao cerebelo. Ele é contínuo com o aqueduto cerebral (mesencefálico, ou de Sylvius) acima, e o canal central da medula espinhal na metade superior do bulbo. Em cada lado, um estreito prolongamento, o recesso lateral, projeta-se ao redor do tronco encefálico; sua abertura lateral (foramen de Luschka) encontra-se abaixo do flóculo cerebelar. Uma outra abertura mediana, que comunica o quarto ventrículo com o espaço subaracnóide, recebe o nome de forame de Magendie.
O IV ventrículo tem bordas laterais, um assoalho e um teto. As bordas laterais são formadas de cada lado do pedúnculo cerebelar superior e inferior, e tubérculos grácil e cuneato.
Teto do quarto ventrículo - Formado por uma fina lâmina de matéria branca. Abaixo está uma abertura mediana (foramen of Magendie); o fluido cérebro-espinhal flui através dessa abertura e aberturas laterais para dentro do espaço subaracnoide. Pelo fato dessas serem as únicas comunicações entre os espaços ventriculares e subaracnóideo, seu bloqueio pode produzir um tipo específico de hidrocefalia.
O assoalho do IV ventrículo, também conhecido como fossa rombóide, é formado pela superfície dorsal da ponte e bulbo.
O aqueduto cerebral é um estreito canal conectando o terceiro e o quarto ventrículos. Ele tem 1.5 cm de comprimento e 1-2 mm de largura. Seu assoalho é formado pelo tegmento do mesencéfalo. Seu teto consiste dos corpos quadrigêmios do mesencéfalo e comissura posterior.
A tela coróidea é uma camada de pia mater (meninge protetora do sistema nervoso) de grande vascularidade que se invagina próxima ao plano mediano dentro da cavidade do quarto ventrículo para formar o plexo coróide do quarto ventrículo. Achados anatômicos indicam que a média normal do sistema ventricular tem a capacidade de menos de 16 ml.Circulação do Líquido Cefaloraquidiano
O CSF é elaborado basicamente pelos plexos coróides, que são franjas de tufos capilares de pia mater (membrana protetora do sistema nervoso central) invaginando as delicadas paredes dos ventrículos. O líquor não é um meio estático, é continuamente produzido e absorvido. Foi calculado que 430 a 450 ml de CSF são produzidos a cada dia, então o fluido deve mudar a cada 6 a 7 horas (Neter, 31).
Circulação
Circulação do CSF
(Em verde-claro, líquido cefaloraquidiano)
ventrículos laterais--> foramen de Monro do terceiro ventrículo --> aqueduto de Sylvius --> IV ventrículo--> foramen de Magendie e Luschka--> espaço subaracnóide sobre o cérebro e medula espinhal --> reabsorção no seio venoso via granulações aracnóides.
Veja uma animaçao do líquor circulando nos ventrículos (3.8 Mb, MOV movie)
Obs: ë necessário um Quicktime ou outro plugin. Veja instruções para instalação. Clique no quadro da imagem para ver a animação.
Figura: Crump Institute for Biological Imaging. Reproduzido com permissão
O CSF é formado no ventrículo lateral, circula através dos foramens interventriculares no terceiro ventrículo e então via aqueduto cerebral no quarto ventrículo. Ali o fluido segue pelas aberturas laterais do quarto ventrículo e foramen medial do quarto ventrículo em espaços subaracnóides, onde se difundem sobre o cérebro e medula espinhal. Mudanças respiratórias e circulatórias parecem mudar a pressão dentro do sistema e promovem a mistura e difusão do fluído.
O fluído segue através do foramen interventricular (de Monro) para o terceiro ventrículo, é aumentado pelo fluído formado pelo plexo coróide deste ventrículo e passa através do aqueduto cerebral (de Sylvius) para o quarto ventrículo, o qual também possui o plexo coróide. O CSF de todas essas origens flui do quarto ventrículo para o espaço subaracnóide através da abertura mediana (de Magendie) e abertura lateral (de Luschka).
O CSF então circula através de cisternas subaracnóides na base do cérebro. Das cisternas, a maioria do CSF é dirigida para os hemisférios cerebrias e pequenas quantidades passam ao redor da medula espinhal.
Barreira hemato-encefálica
Neur^nios do cérebro e medula espinhal são protegidos por muitos danos químicos e substâncias biológicas pela "barreira hemato-encefálica", entreposta entre o sangue e o CSF pelas células endoteliais dos capilares de plexus coróide. Isto é clinicamente importante porque algumas drogas não podem penetrar a barreira. Este dispositivo protetor tem muitos elementos, extendendo-se de junções entre células endoteliais nos capilares do cérebro, restringindo a permeabilidade de moléculas maiores à neuróglia. Grandes vasos sanguíneos penetrando no tecido cerebral são alinhados com uma camada interna do endotélio reforçada com tecido fibrosmuscular.