Os Conselhos exercem papel preponderante não só no aspecto da fiscalização do exercício profissional, mas notadamente no aprimoramento técnico em todas as áreas em que seus pares atuam. Ressalte-se que os Conselhos sofrem fiscalização permanente por meio de auditorias dos Conselhos Federais e do Tribunal de Contas da União.
Ressalte-se que a fiscalização do exercício profissional é cada vez mais essencial no mercado globalizado. A fiscalização do exercício profissional é estratégica para banir do mercado práticas que coloquem em risco a saúde da população e o exercício ilegal da profissão Biomédica.
Mas pensemos a respeito do que é ser biomédico, que de acordo com o senso comum, somos os profissionais que fazem exames de sangue, fezes e urina, sendo esta definição muito restrita e curiosamente compartilhada por conselheiros dos conselhos regionais e federal. Vem a tona a seguinte indagação? Por que temos 35 habilitações se não temos representantes atuantes dentro dos conselhos? Não se cria comissões de especialidade para fiscalizar e trabalhar arduamente pela valorização das novas oportunidades dentro da Biomedicina?
A ciência não é engessada, porque a nossa profissão deve ser? Desejo que biomedicina fosse mais disputada nas faculdades. Queria que todas as salas fossem lotadas do primeiro ao último ano. Quantos mais biomédicos, mais seríamos conhecidos e oportunidades surgiriam e com mais investimentos. Quero poder fazer muito mais pela biomedicina.
A medicina é uma das profissões mais concorridas e todos os anos formam se milhares de médicos e nenhum fica sem emprego, há dezenas de áreas para se especializarem, não ficam presos à uma só seara que certamente saturaria, como é o caso (por enquanto) da biomedicina, na medicina bem como na farmácia existem as comissões da várias áreas de atuação, que lutam pelas respectivas áreas e campos de atuação.
Nossos conselhos são alvos de críticas por todos os lados, algumas infundadas e muitas com razão, destaco várias: Como a falta de transparência nos processos eleitorais pela falta de divulgação ampla das regras eleitorais antecipadamente nos meios de comunicação, como as revistas, sites e cartas. Esta ausência de transparência mesmo com a contudente afirmação que se seguem as normativas do CFBM e que bastaria a publicação no Diário Oficial e fixação de cartaz nas respectivas sedes. Por coincidência se perpetuam nos cargos por várias legislações os mesmos representantes, apenas com alternância nos cargos. Existe a alegação que não se voluntariam Biomédicos a formação de chapas e ou composição das já existentes, mas como seria isto possível se as regras são divulgadas de forma tão peculiar, em meios tão rudimentares de comunicação em plena era digital? A ausência e apoio dos Conselhos nas jornadas de Biomedicina ou nas aulas de início de cursos?
Seria medo de ousar? O conselho forte se faz com profissão consolidada e atuante, no entanto a profissão é jovem podem dizer alguns. Mas me assusta o número de profissionais que cancelam sua inscrição, que creio tenham como principal motivo a falta de inserção no mercado de trabalho.
Nem tudo esta errado, considero muitos de nossos representantes pessoas competentes com conduta ilibada e que são e foram fundamentais para a consolidação da Biomedicina no Brasil. No entanto devemos pensar a frente, pois somos responsáveis por nossa profissão, que segundo pesquisas internacionais deve estar entre as 10 melhores do mundo. O Brasil sendoum país em desenvolvimento as oportunidades são gigantescas. Seria hora de ousar? Tirar os grilhões que acorrentam estados sob a tutela de regiões? Lutar nas mídias para esclarecer o que é o Biomédico? Utilizar os milhares de Biomédicos no Brasil para termos representatividade política? Creio que do alto de minha experiência de 22 anos trabalhando em várias áreas da biomedicina ouso dizer que, SIM!
Após décadas de existência no Brasil, chegou o momento da Biomedicina brasileira redirecionar os seus rumos. É visível o esvaziamento das salas nos cursos de Biomedicina, notadamente no estado de São Paulo, devido à excessiva quantidade de biomédicos graduados nos últimos dez anos e, em contrapartida, a exígua oferta de emprego. Entenda-se que cerca de 90% do emprego oferecido ao profissional biomédico é em Análises Clínicas – justamente o setor que mais se automatizou e dispensou significativamente o uso da tradicional “mão-de-obra especializada”.
O que fazer na atual circunstância em que há centenas ou até milhares de biomédicos desempregados em todo o Brasil? É de se lamentar que diretores e coordenadores dos cursos de Biomedicina, certamente abarrotados por obrigações burocráticas, não exerçam ativamente o pensamento crítico para redirecionar as práticas biomédicas. A justificativa quase uníssona de que as mudanças possíveis teriam grande impacto financeiro no orçamento das instituições universitárias privadas não se justificam mais! É perceptível o esvaziamento e desinteresse de alunos pelos cursos de Biomedicina que pararam no tempo. É evidente também a frustrante consciência de que a maioria das escolas têm graduado biomédicos com características de técnicos universitários, com possibilidades de não se empregarem na atuais circunstâncias.
O pensamento crítico dos profissionais da área de saúde mostra que as práticas médicas e biomédicas, em todas as disciplinas, estão mudando. Essas mudanças são resultados dos avanços científicos e tecnológicos em circulação extra corpórea, estética, biologia molecular, embriologia, genômica, imunologia, citologia de reparação tecidual, imagenologia, acupuntura entre outros..
As informações derivadas dos conhecimentos adquiridos durante o estudo do genoma humano, por exemplo, já estão revolucionando essencialmente a prática médica, com reflexos de exigências modernas na prática biomédica. É possível, atualmente, prover instrumentos para definir a base molecular de praticamente todas as doenças, com destaques para a previsão de riscos, diagnósticos precoces e determinações com alto nível de especificidades terapêuticas. Um outro exemplo pode ser sentido na imunologia em que os anticorpos monoclonais já não servem somente para técnicas de diagnósticos laboratoriais de patologias, mas são usados terapeuticamente como seletores de células com lesões genéticas. E o que dizer do isolamento e uso terapêutico das células tronco? Dos nanorobôs e nanotecnologia? Das imagens em quatro dimensões?
Diante dessas informações é fundamental exercer o pensamento crítico e perguntar:
- Mas o que é a prática biomédica em sua essência? Não seria atender os anseios da prática médica e da população?
A prática biomédica tem a virtude de ser eclética, ou seja, possui a capacidade de aproveitar o que há de melhor no conhecimento da biologia médica para colocar em prática em benefício da Medicina. Ou em outras palavras, disponibilizar conhecimentos e práticas para a saúde da humanidade. Por essa razão, a prática biomédica está intimamente ligada à prática médica. Na medida em que ocorre a evolução científica e tecnológica relacionada ao conhecimento biológico, está claro que a Medicina e a Biomedicina se beneficiam aplicativamente desses progressos. Porém, o que não pode ocorrer é o distanciamento entre o interesse médico contemporâneo e a atual oferta de profissionais biomédicos para compor a prática biomédica. É justamente essa a razão que me faz questionar a formação atual do profissional biomédico – envelhecida precocemente e estagnada no conservadorismo das instituições – e sugerir que a Biomedicina, para ser moderna e atender os anseios prementes, deve iniciar um redirecionamento do seu rumo. E qual é o custo desta mudança? Perguntariam os mais céticos! A reposta é simples: exercer ativamente o pensamento crítico em todas as instâncias acadêmicas e representativas (associações, conselhos e sindicatos); apresentar e analisar sugestões para as mudanças de rumo; e finalmente, ter disposição para enfrentar a mais importante das batalhas, entre tantas outras que dignificaram a nossa profissão, com o objetivo de dar dignidade ao profissional biomédico e a esta excepcional atividade que se chama Biomedicina.
Dr Jeffchandler Belém de Oliveira
Biomédico
Professor universitário
Perfusionista ( especialista em Circulação Extra Corpórea e Orgãos Artificiais)
Conselheiro Instituto Nacional de Biomedicina INB
Membro da Sociedade Brasileira de Circulação Extra Corpórea SBCEC
(*Adaptado do texto A BIOMEDICINA DEVE MUDAR SEUS RUMOS Paulo Cesar Naoum)