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2011/09/03

Quando crescer, vou ser... epidemiologista!

O que faz o cientista que estuda os problemas que afetam a saúde dos grupos humanos?
Por: Marcelo Garcia, Instituto Ciência Hoje/RJ
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Uma epidemia toma conta da cidade. Milhares de pessoas são vítimas de uma dor de barriga daquelas. Ninguém sabe como a doença é transmitida nem como fazer para diminuir os riscos de ser infectado. E agora, quem poderá nos defender? Esse é um trabalho para o epidemiologista, o cientista responsável por estudar todos os problemas que afetam a saúde de grupos humanos (e até de animais).

Mas quais são exatamente os problemas estudados pelo epidemiologista? Bem, no século 18, os alvos de estudo dessa área eram as doenças hoje consideradas infecciosas, que são transmitidas rapidamente, como o cólera, a dengue, a malária e a leptospirose. Nos dias de hoje, os estudos epidemiológicos também dão conta das doenças crônicas – que vão se agravando lentamente no organismo, como a diabetes e as doenças do coração – e até de fenômenos sociais que afetam a saúde do homem, como os acidentes de trânsito e a violência urbana.

O trabalho da epidemiologia está em descobrir quais são os fatores que influenciam no aparecimento, na propagação ou no agravamento desses problemas. Ou seja: o epidemiologista procura descobrir os fatores de risco relacionados de alguma forma com a doença ou o fenômeno em questão. Para isso, ele precisa ter uma noção geral do problema, pois só assim poderá analisar todos os seus componentes físicos, biológicos e sociais.

Pense, por exemplo, numa epidemia de cólera, doença causada pela água contaminada: um epidemiologista identificaria, entre seus fatores de risco, a origem da água consumida pela população e a existência ou não de uma rede de tratamento de água e esgoto nos diferentes locais onde houvesse o maior número de pessoas atingidas. Do mesmo modo, ele pode analisar tanto a ingestão de bebidas alcoólicas como o mau estado de conservação das estradas brasileiras para associar com fatores de risco relacionados aos acidentes de trânsito.

Você acha que acabou? Nada disso! A fase mais importante do trabalho do epidemiologista é propor medidas para o combate e prevenção desses problemas. “Por meio de nossos estudos, identificamos que medidas como vacinação, educação sanitária e alimentação adequada evitam o surgimento de doenças”, exemplifica o epidemiologista Pedro Sadi, professor da Universidade de Brasília. “Percebemos também que estimular a prática de esportes, por exemplo, evita doenças e ocupa os jovens, reduzindo problemas sociais.”

Já deu para perceber que a epidemiologia trata de assuntos bastante variados, não é? Descobrir os fatores de risco relacionados a um problema não é uma tarefa fácil, afinal envolve muitas áreas do conhecimento – como ciências humanas, exatas e biológicas.

De uma forma geral, o que o epidemiologista faz é uma análise do grupo escolhido para ser pesquisado seja por meio do levantamento de dados oficiais (quantos casos de dengue foram registrados na cidade no ultimo verão ou quantos homens jovens sofreram acidentes de carro no ultimo ano, por exemplo), seja através de contato direto. “Usamos exames clínicos variados e questionários-padrão”, explica o epidemiologista Francisco Inácio Bastos, da Fundação Oswaldo Cruz. “Como nossa preocupação são grupos de pessoas, realizamos estes testes com muitos indivíduos.”

Os exames são analisados por cientistas de outras áreas, trabalhando em parceria com os epidemiologistas, e podem servir para simular no computador situações que ajudem a identificar os fatores de risco relacionados ao problema e para descobrir maneiras de preveni-los ou diminuí-los.

Com tantas responsabilidades, você pode achar que é quase impossível se tornar um epidemiologista. Que nada! O caminho é fazer uma faculdade na área biomédica (medicina, enfermagem, por exemplo) ou de ciências humanas (como serviço social) ou ainda de ciências exatas (estatística e física) e depois fazer pós-graduação em epidemiologia. “Ser um epidemiologista é estar sempre estudando, pois o campo evolui muito rápido”, afirma Francisco. “Mas é muito compensador saber que você contribui de alguma forma para um mundo melhor.”

Nas ultimas décadas, a epidemiologia gerou informação, ajudando a prevenir muitas doenças e a salvar muitas vidas, ao identificar, por exemplo, fatores que levam a doenças do coração, a relação do fumo com o câncer de pulmão. Além disso, deu uma nova orientação a problemas sociais, como a violência, ao estudá-los como problemas de saúde humana. Sobram vagas nos concursos públicos, além deste profissional ser ideal na gestão publica e assumir as secretárias de saúde Brasil afora. 

Marcelo Garcia

Instituto Ciência Hoje/RJ.
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