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2011/10/06

A trajetória de Steve Jobs


A trajetória de Steve Jobs

 Felipe Gugelmin
Conheça mais detalhes sobre a história do homem responsável por tornar a Apple a empresa mais valiosa do mundo da tecnologia.

Ampliar(Fonte da imagem: Flickr de tsevis)































A última terça-feira (24 de agosto) vai ficar marcada para sempre na história dos fãs da Apple.
 Após 15 anos à frente da companhia, Steve Jobs anunciou que era a hora de deixar os holofotes e ceder o cargo de presidente-executivo a Tim Cook, até então executivo-chefe de operações da empresa.
Mesmo continuando no cargo de chefe do conselho da empresa, a mudança de cargo de Jobs significa o fim de uma era no mundo da tecnologia. Afinal, a imagem de inovação transmitida pela companhia da Maçã tem muito a ver com a figura do executivo, responsável por demonstrar novos produtos de maneira surpreendente e decidir quais as tendências seguidas pelo setor de tecnologia nos últimos anos.
Neste artigo, reunimos os principais detalhes sobre a trajetória de Steve Jobs, seja à frente da Apple ou em outras empreitadas de sua carreira profissional. Também mostramos algumas das reações ao anúncio de sua saída, e falamos um pouco do impacto que seu nome teve no mundo dos negócios e o porquê dele ter se tornado uma figura considerada até mesmo mítica por alguns.

Visão empreendedora

Steven Paul Jobs nasceu em 24 de fevereiro de 1955 em São Francisco, na Califórnia. Deixado para adoção pela sua mãe biológica, ele foi criado por Paul e Clara Jobs na cidade de Mountain View, e estudou na Cupertino Junior High School e na Homestead High School.


































Durante os tempos de colegial, Jobs passou a frequentar palestras oferecidas pela Hewlett-Packard, não demorando muito tempo para que passasse a figurar entre seus funcionários. Em 1972, após cursar somente um semestre da Universidade de Reed e desistir da carreira universitária, ele continuou a frequentar algumas das matérias oferecidas pelo local, como o curso de caligrafia – algo que se refletiu anos mais tarde nas fontes utilizadas pelos computadores Mac.


































Após trabalhar algum tempo para a Atari, em 1974 Jobs viajou para a Índia junto a seu amigo Daniel Kottke em busca de iluminação espiritual. Voltou de lá um budista convertido, algo que influenciou muito da filosofia que empregaria na Apple, fundada em 1976 em parceira com Steve Wozniak, Ronald Wayne e “Mike” Markkula Jr.

Primeiros sucessos

O primeiro computador com a marca Apple surgiu após um acordo feito entre Jobs e o dono da loja The Byte Shop, Paul Terrel. Pelos termos do acordo, ele e sua equipe tinham que construir 50 máquinas funcionais em um período máximo de 30 dias, a um preço de US$ 500 por unidade.
Para conseguir o valor necessário para o projeto, a equipe fez um pedido à fabricante de componentes Cramer Eletronics, oferecendo como única garantia de pagamento o recibo do pedido feito por Terrel. Após trabalhar dia e noite, o pequeno time de desenvolvedores conseguiu entregar as unidades pedidas do Apple I, encontrando no processo um meio de financiar a companhia sem ter que ceder nenhuma ação a investidores externos.

Apple II

(Fonte da imagem: Azcentral.com)O primeiro grande sucesso da récem-fundada Apple foi o desenvolvimento do Apple II, apresentado pela primeira vez em 1977. A máquina se destacava pela inclusão de um display com grande qualidade para a época, além de apresentar um teclado muito melhor do que os demais modelos disponibilizados pela concorrência. A ideia de Jobs que guiou o desenvolvimento do produto era a de que a máquina pudesse ser usada imediatamente após ser retirada da caixa.
Milhões de unidades do dispositivo foram vendidas, tornando o dispositivo praticamente um sinônimo da palavra computador durante a década de 1980. O modelo recebeu diversas melhorias em seu período de vida, incluindo telas e sistemas de som aprimorados e a incorporação de várias funções que até então precisassem de acessórios complementares para funcionar.

A despedida da empresa

Apesar do sucesso do Apple II, os próximos anos foram de dificuldades para a Apple. Enquanto o modelo Apple III sofria com problemas de aquecimento, o Lisa, lançado em 1983, possuía um preço extremamente alto que acabou por afastar possíveis compradores.
A virada de rumo veio com o lançamento do Macintosh em 1984. O aparelho ficou marcado tanto por ser o primeiro a utilizar uma interface de comando baseada em gráficos quanto pelo icônico comercial de televisão com o nome 1984. A plataforma tornou a Apple extremamente conhecida, iniciando o processo de evangelização em torno dos produtos da empresa que permanece até hoje.


































Apesar do grande sucesso do Macintosh, que se estabeleceu como a plataforma preferencial para as indústrias da música, propaganda e arte, a situação interna na companhia não era das melhores. Disputas com o CEO da Apple na época, John Sculley, fizeram com que Jobs fosse obrigado a abandonar em 1985 a companhia que ajudou a fundar.

Os anos na NeXT Computers

(Fonte da imagem: Wikimedia Commons)Após ter deixado a Apple, Steve Jobs fundou a NeXT Computer, companhia pautada pelos mesmos ideiais de inovação que o levaram a criar sua empresa anterior. Os aparelhos criados pela NeXT se tornaram conhecidos pelas inovações que apresentavam e, principalmente, pelo alto preço cobrado por cada um deles.
A nova empresa tinha como foco os meios acadêmicos e científicos, capazes de arcar tanto com os custos das máquinas quanto de aproveitar as novidades das interfaces criadas por Jobs e sua equipe. Devido ao público reduzido, a NeXT passou por diversas dificuldades financeiras, inclusive enfrentando um período em que se dedicou exclusivamente ao desenvolvimento e venda de softwares.

Participação na Pixar

Em 1986, Jobs comprou o The Graphics Group, mais tarde renomeado para Pixar. Após um período de fracassos desenvolvendo hardwares gráficos, a empresa mudou seu foco para o desenvolvimento de animações. Em parceria com a Disney, foram desenvolvidos filmes de sucesso como Toy Story, WALL-E e Os Incríveis, rendendo à companhia grande destaque na área.
Após a venda da Pixar em 2006, Jobs se tornou o acionista majoritário da Disney, detendo o direito sobre 7% das ações da empresa. Atualmente, ele faz parte do quadro de diretores da companhia, tendo influência sobre as decisões que envolvem as animações feitas sob o nome do estúdio.

Volta triunfal para a Apple

Em 1996, a Apple anunciou a compra da NeXT Computers, o que levou Steve Jobs de volta à empresa que ajudou a fundar. Após assumir os cargos de consultor e de CEO interino, ele voltou ao papel de principal executivo da companhia, decidido a reformulá-la no que fosse preciso, corrigindo os desvios de rumo responsáveis pela Maçã perder espaço e sucesso.
Jobs cancelou uma série de projetos que considerava pouco promissores, gerando um período de medo entre os funcionários da empresa, que viam a possibilidade de perder seus empregos a qualquer momento. O resultado da mudança de rumo foi o iMac 3G, que revolucionou mais uma vez os computadores pessoais ao incorporar elementos do desktop ao monitor do aparelho.
(Fonte da imagem: Apple)


















A partir desse momento, a Apple passou a construir a trajetória de sucesso que a levou a ser considerada atualmente como a empresa mais valiosa do mundo. Entre os produtos revolucionários apresentados por Jobs estão o iPod e iTunes, que em 2001 iniciaram uma mudança total no mundo da música digital.
Outros sinônimos de sucesso são o iPhone, cujo primeiro modelo foi apresentado em 2007, e o iPad, aparelho que, praticamente sozinho, foi responsável por tornar viável o mercado de tablets. Durante o passar dos anos, Jobs construiu uma imagem pessoal marcante e enigmática, gerando um imenso burburinho entre a imprensa especializada em tecnologia toda vez que sinalizava o lançamento de algum novo produto ou serviço.
Para comprovar o sucesso de Jobs em frente à diretoria da Apple, basta observar a valorização da empresa a partir de seu retorno ao cargo de CEO. Em 2000, cada ação da companhia valia aproximadamente US$ 12,88. Já em julho de 2011, o valor unitário pelos papéis da marca da Maçã era de US$ 403,41, uma valorização de 3100%.

Trajetória marcada pelos fracassos e sucessos

(Fonte da imagem: Unitechy)Embora o nome de Steve Jobs esteja vinculado à inovação e  a produtos bem recebidos pelos consumidores e pela crítica especializada, nem todas as decisões do ex-CEO da Apple se mostraram bem-sucedidas.
Durante seu primeiro período à frente da empresa, foram lançados verdadeiros fracassos como o Apple III e o Lisa. Enquanto o primeiro sofria com o aquecimento excessivo devido à decisão de não incluir uma ventoinha de ventilação no produto, o segundo possuía um hardware extremamente avançado para a época, o que acabou se refletindo em um preço muito alto para o gosto dos consumidores.
Outro fracasso foi o lançamento do TAM (Twentieth Anniversary Macintosh), ocorrido em 1997. Desenvolvido para comemorar os 20 anos da empresa, o aparelho possuía uma tela de 12 polegadas e leitor de CD vertical. O preço alto (US$ 7500) fez com que o produto fosse considerado pouco atrativo, resultando em seu abandono um ano após seu lançamento.
O TAM (Fonte da imagem: Wikimedia Commons/W´rkncacnter)
O período de Jobs no comando da NeXT Computer também não pode ser considerado muito bem-sucedido. Apesar de ter virado sinônimo de inovação, a empresa passou por diversas dificuldades financeiras durante sua existência, resultando em sua venda para a Apple em 1996.

Ideias inovadoras

(Fonte da imagem: Wikimedia Commons/Rama)Apesar de não ter sido sempre bem-sucedido, Jobs possui um currículo invejável de decisões positivas . Em seu histórico estão inovações como o Apple II, Mac e iMac, três máquinas responsáveis por verdadeiras evoluções no mundo dos computadores na época de seu lançamento.
O ex-CEO da Apple também tem lugar na história por ter sido o homem responsável por mudar as regras do jogo na indústria fonográfica. A partir da combinação iPod e iTunes, a música digital a preços acessível passou a ser uma realidade para milhões de pessoas, ajudando a reviver um mercado condenado à destruição devido à pirataria excessiva.
Outro exemplo de sucesso é o iPhone, aparelho que começou desacreditado, mas em pouco tempo se tornou praticamente um sinônimo da palavra smartphone. Já o iPad tem como principal mérito ser o principal responsável pela criação de um mercado viável de tablets, construindo a necessidade para esse tipo de aparelho entre os consumidores comuns.

A reação do mercado à saída

O afastamento de Jobs da diretoria da Apple, embora não totalmente inesperado, é o tipo de situação que provoca um grande efeito entre os analistas e fãs do mundo da tecnologia. Logo após o anúncio da renúncia, as ações da companhia sofreram uma queda de 5%.
Apesar de um homem como Steve Jobs ser insubstituível, o mercado reagiu bem ao anúncio de que Tim Cook será o próximo a assumir o posto de CEO da Apple. Exemplo disso foi a declaração de Mark Moskowitz, da J.P. Morgan, que afirma que Cook é um profissional bem-sucedido, e que seu conhecimento das estruturas de produção da companhia deve resultar em poucas mudanças em sua estratégia de mercado.
Tim Cook, novo CEO da Apple (Fonte da imagem: Business Insider)




















Opinião semelhante foi demonstrada por Katy Huberty, da Morgan Stanley e Maynard Um, da UBS, que consideram o novo diretor uma boa opção para manter a trajetória de sucesso da empresa de Cupertino. Posicionamento semelhante ao de Gene Munster, da Piper Jaffray, que afirma que “o caráter de Steve Jobs, sua visão e sua ética de trabalho guiarão a Apple para sempre”.
Já Chris Whitmore, do Deutsche Bank, prevê riscos em um período de 3 a 5 anos, destacando que problemas podem surgir caso Jobs deixe a companhia em definitivo. Em geral, a expectativa é a de que as ações da Apple sofram quedas durante um período de tempo curto, se estabilizando conforme os investidores percebem que a transição para a era Tim Cook não deve representar nenhuma mudança de rumo radical nos planos da empresa.

Ícone cultural

Mais do que simplesmente ocupar o cargo de presidente de uma poderosa companhia, Steve Jobs se tornou um ícone cultural com a mesma força de nomes como Bill Gates. Mesmo quem não conhece nada de informática ou não se interessa pelo mundo da tecnologia como um todo é capaz de associar a imagem do ex-CEO aos produtos Apple.
(Fonte da imagem: Submarino)






















Tamanha popularidade se reflete em uma grande quantidade de produtos que exploram os ensinamentos que podem ser tirados de sua trajetória de sucesso. Títulos como “A Cabeça de Steve Jobs”, “Inovação: A arte de Steve Jobs” e “O Fascinante Império de Steve Jobs” tentam desvendar os mistérios por trás da figura do executivo, usando sua história como exemplo para o leitor de aprimoramento pessoal.
Filmes como “Piratas da Informática”, produzido pela rede de televisão TNT, exploram fatos importantes do mundo da tecnologia, incluindo aparições do próprio Jobs e eventos importantes como o lançamento do Apple II. Já “Macheads” explora o fanatismo dos fãs pelos produtos com a marca da Maçã, enquanto “Bem-vindo ao Macintosh” faz um histórico da Apple desde sua fundação até os dias atuais.
A figura do executivo deve demorar a desaparecer do imaginário popular, ainda mais depois do anúncio de sua renúncia. Os fãs de seu trabalho devem ficar atentos: está programado para 2012 o lançamento do livro “iSteve: o livro de Jobs”. Escrita por Walter Isaacson, a obra se trata da primeira biografia autorizada pelo homem forte da Apple, incluindo entrevistas com o próprio, além de familiares, concorrentes e ex-colegas de trabalho.

Steve Jobs – o gênio da tecnologia responsável por revolucionar ao menos três segmentos da indústria (computação pessoal, música, e telefonia) e inovar outra (animação para filmes) – morreu nesta quarta-feira, aos 56 anos de idade. Ex-CEO e força criativa por trás da Apple, ele lutava desde 2003 contra um câncer raro no pâncreas, que o levou a deixar, em agosto, a direção da companhia que ele fundou em 1976 e ajudou a transformar em uma das mais valiosas do planeta. Jobs deixa a mulher, Laurene, e quatro filhos – três mulheres e um homem.
A família de Jobs se manifestou publicamente, mas pediu privacidade. "Ele morreu hoje, pacificamente, cercado por sua família... Nós sabemos que muitos de vocês sentirão a perda conosco, porém, pedimos respeito e privacidade durante esta hora de dor."
No site da Apple, uma nota faz uma homenagem a Jobs: "A Apple perdeu um gênio visionário e criativo, e o mundo perdeu um ser humano incrível. Aqueles que tiveram o prazer de conhecer e trabalhar com Steve perderam um amigo querido e um mentor inspirador. Steve deixa para trás uma companhia que somente ele pôde erguer e seu espírito será para sempre a essência da Apple".
Jobs protagonizou uma das sagas mais fascinantes de nosso tempo, uma aventura digna de filme. Reúne drama familiar, construção de um império, traição empresarial, superação e, sim, romance. Colocado para adoção logo após o nascimento, o menino nascido em São Francisco, na Califórnia, foi acolhido por uma família simples com a condição de que pudesse cursar a universidade. Uma vez lá, o jovem Steven Paul abandonou os estudos, trocando a graduação promissora por um incerto curso de caligrafia e uma viagem mística pela Índia. De volta aos Estados Unidos, inventou na garagem dos pais, ao lado de um amigo, Steve Wozniak, o que viria a ser o primeiro computador pessoal do mundo. Aos 20 anos, a dupla fundou a Apple. Três anos depois, acumulava 100 milhões de dólares. Aos 30, Jobs foi expulso da companhia pelo homem que ele mesmo contratara, John Sculley. Fora da "maçã", fundou outra empresa de computadores e comprou, do cineasta George Lucas, uma produtora de animações, a Pixar, por 10 milhões de dólares – 11 anos depois, a empresa seria vendida por 7 bilhões de dólares com filmes como Toy Story no currículo. Aos 42, Jobs foi convocado de volta à Apple para salvar a empresa da falência. Nos anos seguintes, lançou o iPod, iniciando a revolução no mercado de distribuição de música, o iPhone, catapultando o setor de smartphones, e o iPad, promovendo movimentação no setor editorial. Ao final do ciclo, a Apple chegou a ocupar o posto de empresa mais valorizada do planeta, avaliada em cerca de 350 bilhões de dólares. A última década de vida, talvez a mais frutífera, foi marcada também pela batalha contra o câncer no pâncreas. Uma trajetória de tirar o fôlego.
Jobs não criou tudo sozinho, é claro, mas não há dúvidas de que seu espírito – exigente e inventivo – foi decisivo para moldar a tecnologia que chegou às mãos do consumidor no último quarto de século. Foi ele, por exemplo, quem insistiu com Wozniak na ideia de levar o Apple I, primeiro computador pessoal, ao grande público. Foi dele também a decisão de abandonar, no início da década passada, o desenvolvimento do tablet e, em seu lugar, abraçar o projeto que desaguaria no iPhone, aparelho que de fato apresentou ao mundo o celular inteligente (o tablet ficaria para depois).
Wozniak, o amigo e cofundador da Apple, concorda com todos os talentos atribuídos a Jobs – apurado senso estético, capacidade de liderar, visão de mercado, poder de comunicação... Mas aponta um que, a seu ver, distancia o ex-CEO da esmagadora maioria dos líderes empresariais e também da maior parte dos mortais: "Ele sabe o que as pessoas querem ver nos produtos e também o que não querem. É um entendimento total do que motiva o ser humano."
O nome de Jobs está presente em nada menos do que 313 patentes, que tratam de invenções, usadas em produtos como desktops, iPods, iPhones e iPads. Até alguns itens de decoração utilizados nas lojas da Apple foram registrados pelo ex-CEO. As patentes se referem a tecnologia, funcionalidades e também ao design dos aparelhos, um aspecto essencial para Jobs. "Design não é apenas a aparência de um produto. Design é como ele funciona." Várias vezes, ele deixou claro seu interesse pela zona de contato entre técnica e design e sua admiração pelo renascentista Leonardo Da Vinci (1452-1519), o mestre que pintou aMonalisa e esboçou um protótipo do helicóptero.
"Steve Jobs é o Henry Ford da tecnologia", aposta Leander Kahney, autor do livro A Cabeça de Steve Jobs, que procura dissecar o método do americano. "Ele é o maior inovador na indústria da tecnologia voltada ao consumidor." Carmine Gallo, colunista da revista Businessweek, complementa a comparação: "Ele mudou totalmente o modo como interagimos com equipamentos digitais. Se não fosse por Jobs, ainda estaríamos digitando linhas de comando, em linguagem de máquina." Perfeccionista, Jobs criou produtos de uso simples, mas com aparência sofisticada, que mexeram com o imaginário de seus consumidores, criando uma legião de fãs da Apple.
Tanta exigência teve seu preço. Jobs passou a ser conhecido como um chefe implacável, que podia demitir um funcionário no elevador caso ele não tivesse na ponta da língua resposta sobre um produto em desenvolvimento na companhia. Em outras situações de trabalho, era comum que os colaboradores fossem interrompidos logo que pronunciavam as primeiras palavras de um raciocínio: "Já entendi. Mas o que penso sobre esse assunto é o seguinte..."
O executivo não era surdo às críticas, e chegou a explicar suas razões. "Algumas pessoas não estão acostumadas com um ambiente onde se espera excelência", disse certa vez. Em outra oportunidade, mostrou o peso de ser líder: "É doloroso trabalhar com algumas pessoas que não as melhores do mundo e precisar livrar-se delas. Mas constatei que minha função, às vezes, consiste exatamente nisso: descartar algumas pessoas que não correspondem às expectativas." A melhor autodefinição, contudo, talvez seja a seguinte: "Meu trabalho não é ser fácil com as pessoas. Meu trabalho é torná-las melhores."
"Steve nunca permitiu que a Apple fizesse produtos apenas razoáveis, nem mesmo bons: ele só aceitava os excelentes", afirma Wozniak, o amigo de juventude com quem Jobs criou o primeiro computador pessoal. Até mesmo rivais reconheceram a estatura do executivo não apenas na condução dos negócios da Apple, mas também seu carisma para liderar e motivar sua equipe e cativar consumidores. Foi o caso de Bill Gates, o fundador da gigante de software Microsoft: "Ao pensar em líderes que conseguem inspirar seus funcionários, Steve Jobs é o melhor que já conheci. Ele acredita na excelência de seus produtos e é capaz de comunicar isso."
Sem seu principal criador, a Apple caminhará sob comando de Tim Cook, antigo chefe de operações da companhia, que assumiu o cargo de CEO no final de agosto. Um dia depois do afastamento de Jobs, as ações da companhia caíram cerca de 2%, exprimindo a preocupação dos investidores com o futuro da companhia. "Em curto prazo, contudo, não vemos nenhum impacto que possa prejudicar a Apple. São oscilações normais de mercado", avalia Bruno Freitas, analista de mercado do grupo IDC.
O conforto é fruto de uma tática quase imperceptível adotada pelo cérebro da empresa: o treino das lideranças da companhia. Nos lançamentos da marca nos últimos anos, por exemplo, Jobs dividia as apresentações: ele mostrava as novidades e deixava as explicações técnicas para os especialistas. Além disso, em 2008, foi criada a Apple University, com o objetivo de ensinar os empregados da empresa a "pensar como Steve Jobs" e a tomar decisões como ele. A idéia era impregnar nos executivos o "jeito Steve Jobs de ser".
"Não há dúvidas de que, sem ele, não haveria Apple. Mas a questão é que ele criou um time e uma série de processos pensando no sucesso", diz Carolina Milanesi, analista do Gartner, grupo especializado em análise de mercado. Freitas completa: "Podemos falar que a Apple absorveu o DNA de Steve Jobs. Por isso, ela pode continuar bem, mesmo sem ele no comando."
Só o futuro poderá dizer se o atual e os novos dirigentes da empresa manterão o vigor de Jobs. É improvável que outro profissional reúna os mesmos talentos dele. Mas é imprescindível que seus líderes nutram pela companhia – e por tudo o que ela representa – o mesmo sentimento alimentado por seu criador: "Foi como a primeira paixão", disse Jobs certa vez sobre a Apple.