Páginas

2011/10/16

Reprodução Humana



O DNA é uma molécula bem longa, que fica no núcleo da célula, nele está “escrita” toda a informação necessária para que a célula execute bem sua função. Se a célula é do coração, o DNA dará a instrução para que ela funcione como uma célula do coração; se a célula é do cérebro, a instrução é para que ela funcione como uma célula cerebral.
 A molécula de DNA se assemelha a uma escada: há um corrimão de cada lado e degraus ligando esses corrimãos. Os degraus são a parte variável do DNA, representados pelas letras A, T, G e C - que são os compostos orgânicos adenina, timina, citosina e guanina, respectivamente. Estas letras estão em uma sequência que somente a célula consegue ler e cada uma recebe o nome de gene. Para que a leitura seja feita corretamente, a célula envia uma cópia do gene para fora do núcleo sob a forma de RNA.

No citoplasma existem elementos (os ribossomos) capazes de fazer a leitura do RNA e quando isto acontece dizemos que o gene está se expressando, pois o gene expressa sua informação por meio do RNA. Vários genes podem ser lidos ao mesmo tempo. A partir do conjunto de informações que essa leitura fornece, formam-se várias características, como forma do rosto, tamanho do corpo, cor dos olhos, etc. Estas características recebem o nome de fenótipo.
Por causa do seu grande comprimento, o DNA precisa se enrolar até ficar bem “apertado” para caber na célula, formando uma estrutura chamada cromossomo. Cada espécie de ser vivo possui um número de cromossomos, a espécie humana possui 46. Metade dos cromossomos, 23, vem da mãe e a outra metade é fornecida pelo pai.
Nos órgãos reprodutivos da mulher (ovário) e do homem (testículo) existem células especializadas em gerar gametas (células que possuem 23 cromossomos): óvulo e espermatozóide. O processo pelo qual uma célula com 46 cromossomos produz outras com 23 cromossomos é chamado meiose.
Quando óvulo e espermatozóide se unem dentro do útero forma-se o zigoto (com 46 cromossomos), que é a nossa primeira célula. Uma vez gerado, o zigoto começa a se multiplicar, produzindo células idênticas. Para que uma célula produza duas, ela deve, em primeiro lugar, duplicar todas as estruturas existentes em seu interior, inclusive o DNA. Replicação é o nome do processo no qual o DNA se autoduplica, já a mitose é o nome de duplicação da célula inteira.
Depois de todo esse processo as células começam a formar diferentes tipos de órgãos: músculo, ossos, intestino, fígado, etc. Quando o organismo está completo, após se desenvolver e crescer de tamanho, chega o momento do nascimento.
Normalmente, durante a vida, caso aconteça algum dano que destrua uma célula, ela é reposta a partir das células já existentes por meio da mitose. Por exemplo: se uma célula do rim é eliminada, uma célula deste órgão, idêntica à que foi perdida, se multiplica e gera outra célula igual. Este é um processo coordenado e sincronizado, se esta harmonia é de alguma forma alterada, surgem as doenças.
Duplicação da molécula de DNA.  


Nas duas divisões celulares (meiose e mitose). 



Processo desde ovulação até implantação do embrião no útero. 
1.Então o que é reprodução humana? 
É uma especialidade médica que vai investigar e cuidar das pessoas que apresentam infertilidade. É considerada infértil quando, após um ano, a mulher que possui vida sexual ativa e não se utiliza de método contraceptivo, não consegue engravidar. 

2. Quais os tipos de tratamentos mais utilizados? 
Inseminação artificial e fertilização in-vitro. No caso da fertilização in-vitro há algumas variantes como a técnica da Injeção Intra-Citoplasmática (ICSI), que injeta espermatozóide direto no óvulo. Há também a micro-aspiração testicular e de epidídimo. O homem que fez vasectomia, por exemplo, pode engravidar a parceira, através da técnica de aspiração do epidídimo. O epidídimo está localizado no prolongamento do testículo. 

3. Além dos tratamentos específicos, qual o melhor tratamento? 
A prevenção é o melhor dos tratamentos. O mais seguro, o mais eficaz, o menos oneroso ao estado e ao cidadão. Mas o problema que deve ser abordado é como prevenir os males da infertilidade. Tudo começa na educação, na infância, no núcleo familiar e na escola. As crianças devem ter acesso a informações sobre como funciona biologicamente o corpo humano, também no seu aspecto sexual e reprodutivo. É inaceitável, mas muito comum como pais e educadores continuam a fugir de um tema tão simples, mas complexo e que muitas vezes fazem os adolescentes buscarem respostas onde existe mais confusão, cumplicidade do que propriamente orientação. 

4. Qual a diferença básica entre a Fertilização in-vitro convencional e a ICSI? 
Consta no fato de que na primeira é necessária uma quantidade de espermatozóides móveis, de boa qualidade, entre 150 a 300 mil por cada óvulo. Já na ICSI é necessário um espermatozóide móvel por cada óvulo. Isto significa que a ICSI veio a resolver a infertilidade de um grande número de casais, cujo marido tem uma diminuição significativa na quantidade ou na mortalidade dos espermatozóides. Quando não se encontram espermatozóides no ejaculador, eles podem ser colhidos diretamente do testículo ou do epidídimo. Esta coleta é feita com anestesia local ou sedação. 

5. Como é o processo de Inseminação Artificial? 
A inseminação artificial é uma técnica que consiste em preparar o sêmen em meio de cultura adequado, com o objetivo de melhorar a mortalidade e a possibilidade dos espermatozóides fecundarem o óvulo. Normalmente a mulher é submetida à estimulação ovariana com medicamentos adequados, aumentando a oferta de óvulos, acompanhada por ultra-sonografia transvaginal. No momento provável da ovulação é colhida uma amostra do sêmen do marido e preparada no laboratório de Reprodução Humana. 

6. Qual o perfil das pessoas que mais procuram esses tipos de tratamento? 
Normalmente são casais ansiosos, desgastados porque já buscaram respostas e não as tiveram adequadamente. Elas chegam até a clínica com muita esperança de realizar o sonho de ter filhos. Uma faixa etária muito heterogênea. Chegam pacientes na faixa dos 20 até os 50 anos de idade. Mas, a maior freqüência é entre os 30 e 40 anos. 

7. Qual o índice de sucesso adquirido nos tratamentos? 
Num aspecto geral, varia. No caso das fertilizações in-vitro conseguimos um índice de aproximadamente 45% de sucesso. Entretanto, é bom ressaltar que a idade é um fator importante na fertilidade. Após os 40 anos, essa taxa baixa vertiginosamente, podendo chegar a 15% ou 20%. Isso acontece porque a mulher nasce com a população de óvulos pré-definida e com o passar dos tempos a tendência é cair. Além disso, com o passar dos anos, maior é a chance da mulher ter problemas, como gravidez tubária e distúrbios hormonais. No caso dos homens não há tanto reflexo relacionados à idade. 

8. Como é o feito o procedimento de fertilização in-vitro? 
Na primeira etapa ocorre a indução de ovulação com hormônios. Depois disso, há um acompanhamento através de ultra-som para controle de ovulação. O terceiro passo é a coleta de óvulos e de espermatozóide. No dia seguinte à coleta, que é feita sob anestesia para melhor conforto da paciente, as placas serão checadas para serem identificados os óvulos que foram fecundados e em torno de 2 a 5 dias após a coleta dos óvulos, os embriões serão colocados no interior do útero. Após o procedimento, é recomendado dois a três dias de repouso relativo e depois vida normal. Essa técnica é indicada em esterilidade sem causa conhecida, endometriose, obstrução tubária e infertilidade masculina leve a moderada. 

9. Nesse tipo de procedimento aumentam as chances de gravidez múltipla? É possível escolher o sexo do bebê? 
Gira em torno de 20%, quando a população que não faz o tratamento, teria 1% de chance de uma gravidez múltipla. No Brasil são colocados até quatro embriões. Na Europa, por exemplo, esse número é restrito a um e, no máximo, dois. Em relação ao segundo questionamento sim, existe possibilidade da escolha. Porém, a técnica que existe não identifica o embrião antes da fecundação, e sim depois. E no Brasil, o Conselho Federal de Medicina não recomenda este procedimento, pois há toda uma questão de ordem ética.

10. Quais são os custos? Variam entre R$ 1.500 a R$ 12 mil reais, por tentativa. Isso inclui medicamentos e tratamentos. 

11. Quais as principais causas de infertilidade feminina? 
Infecções pélvicas com comprometimento tubário, endometriose e distúrbios de ovulação. 

12. O que é a endometriose? 
É uma doença que tem como definição a presença do tecido endometrial fora do seu local normal que é a cavidade uterina. O endométrio é uma mucosa que tem como principal função receber a implantação do embrião e mantê-lo com a nutrição materna necessária ao seu desenvolvimento. Mensalmente a mulher que não engravida renova o seu endométrio através da descamação, chamada de menstruação. Cerca de 10% das mulheres na idade reprodutiva apresentam endometriose. É importante que diante de algumas alterações no ciclo da mulher como dores intensas e dificuldade em engravidar a paciente deve procurar o seu ginecologista que encaminhará a melhor forma de tratamento. 

13. Qual a importância do vídeo-laparoscopia na infertilidade? 
A Laparoscopia já auxilia na pesquisa e tratamento da infertilidade feminina há muitos anos. Porém a década de 1990 foi marcante nos avanços, que a laparoscopia trouxe na resolução da infertilidade feminina. 

14. Os métodos contraceptivos definitivos devem ser evitados? 
A laqueadura (ligação) tubária é um importante fator de infertilidade feminina. Cerca de uma em cada três mulheres que fazem laqueadura se arrependem. Este fato é importante, pois os critérios de inclusão destas mulheres devem ser rigorosos. Levando-se em consideração a existência de tantos bons métodos contraceptivos temporários, os definitivos deverão ser a última opção. 

15. Qual é o melhor momento para se procurar um especialista? Diante de tempos onde cada vez mais os casais apresentam algum grau de infertilidade, o papel do ginecologista geral e do urologista é preponderante no sucesso do casal. Cerca de 20% dos casais apresentam infertilidade, número alarmante e crescente. A metade dos casos tem causa masculina e a outra metade feminina. Existe um grupo que chega a algo em torno de 20% com causa dupla. 

16. O que a Medicina Reprodutiva tem constatado em relação à infertilidade masculina? 
Nos últimos anos tem sido constatada uma diminuição progressiva na quantidade e qualidade dos espermatozóides, células germinativas masculinas. A fertilidade masculina é responsável pela metade dos casos de infertilidade conjugal nas visitas aos consultórios dos especialistas. Fatores ambientais, vestimentas, alimentação, produtos químicos, poluição, estresse, processos infecciosos, irradiação e mudanças de hábitos podem estar relacionados com esta diminuição progressiva. 

17. Desde o nascimento de Louise Brown em 1978 na Inglaterra, a medicina reprodutiva avançou? 
Os avanços na área de Medicina Reprodutiva saltam aos olhos. Desde o nascimento de Louise Brown em 1978 na Inglaterra, muitas mudanças aconteceram com melhoria dos resultados e busca de novas tecnologias que venham a vencer barreiras que existem neste tema. As barreiras são um estímulo aos pesquisadores que se desdobram para elucidarem enigmas que um dia jamais se pensou. A década de 90 foi a era de resolver os grandes problemas da infertilidade masculina com o desenvolvimento e aprimoramento da técnica de injeção intra-citoplasmática de espermatozóide (ICSI), com suas diversas variantes, sendo os espermatozóides colhidos ou por masturbação ou diretamente do(s) testículos ou canais que os levam até a uretra. 

18. Por que se retira tanto ovário? Se em cada ovário retirado correspondesse a um testículo se saberia o verdadeiro valor do ovário. Conclusão: muitas cirurgias de retirada de ovário poderiam ser evitadas. 

19. Homens em tratamento de câncer de próstata, por exemplo, podem proteger a sua fertilidade? 
Sim. Através do congelamento do sêmen. Pacientes que têm neoplasia maligna testicular ou que serão submetidos à radioterapia ou a quimioterapia poderão beneficiar-se desta técnica, que consiste na obtenção do ejaculado por masturbação em uma ou mais amostras, preparação laboratorial, resfriamento e congelamento no nitrogênio líquido. Isso manterá a temperatura em baixos níveis, possibilitando após o descongelamento, a recuperação de espermatozóides viáveis à fecundação. 

20. Com relação a órgãos como o ovário, por exemplo, de que forma devemos conservá-lo? A Medicina Reprodutiva tem dado respostas extraordinárias a problemas que até pouco tempo não se poderia imaginar. Vivemos uma era de grandes avanços e ensinamentos e por que não dizer de novos aprendizados, novos conceitos que poderiam ser embasados nos ensinamentos dos mestres antigos. A Medicina deve ser a menos invasiva possível. A preservação dos órgãos deve ser um objetivo que obrigatoriamente precisa estar incorporado na mente dos nossos cirurgiões. Para ocorrer uma gravidez é fundamental a integridade do sistema reprodutivo tanto feminino (ovários, trompas, útero e vagina) quanto masculino (testículos, ductos e glândulas associadas). Deve ser meta, sempre que possível a preservação destes órgãos.





Texto: Daniel Dentillo (pós-doutorando do Depto de Ginecologia e Obstetrícia - FMRP/USP)