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2014/05/25

COMPLICAÇÕES GERADAS POR UMA PERFUSÃO DEFICIENTE

COMPLICAÇÕES GERADAS POR UMA PERFUSÃO DEFICIENTE

Complications caused by deficient perfusion

Ubirajara Ferreira da Silva
Biomédico

JeffChandler Belém de Oliveira
Biomédico, Especialista em Circulação Extracorpórea e Órgãos Artificiais e Docente da  Faculdade Alfredo Nasser(UNIFAN), Membro da SBCEC, Docente da ASGARD Cursos

RESUMO


A presente revisão bibliográfica tem por objetivo comentar alguns aspectos relevantes da circulação extracorpórea (CEC), levando-se em consideração fisiologia, fisiopatologia na perfusão. Desempenhar os procedimentos com cautela, avaliar os exames e saber sobre a história pregressa do paciente, idade e patologias associadas e pelas suas características individuais, talvez merecessem protocolos mais apropriados ou segundo as diretrizes da cirurgia de revascularização do miocárdio. Estar ciente das reações inflamatórias sistêmicas causadas pela exposição do sangue à superfície não endotelizada do circuito de CEC e seu contato com o sangue da ferida operatória durante a canulação, saber identificar através da monitorização os sinais que vão desde uma hipercalemia a uma síndrome vasoplégica e seu tratamento, caso não seja eficiente, tomar condutas que julguem mais eficiente para o momento. Finalizando, ressaltar alguns pontos para não incidir no mesmo erro, que pode levar sequelas ao paciente ou até a morte do mesmo por uma conduta deficiente.
Descritores: Circulação extracorpórea. Revascularização do miocárdio, cirurgia cardíaca, bombas, calibragem, hemólise, Sirs. 


ABSTRACT


This literature review aims to review some relevant aspects of the cardiopulmonary bypass(CPB) taking into consideration the physiology, pathophysiology perfusion. Perform procedures carefully, evaluating the examinations and know about the patient's previous history, age and comorbidities and their individual characteristics, deserve more appropriate or according to the guidelines of coronary artery bypass grafting protocols. Be aware of systemic inflammatory reactions caused by exposure of blood to non-endothelial surface of the CPB circuit and its contact with the blood of the wound during cannulation, learn to identify by monitoring the signals ranging from a hyperkalemia a vasoplegic syndrome and its treatment , if not efficient, taking behaviors they deem most efficient for the moment. Finally, we highlight some points not to address the same error, which can lead to the patient sequelae or death the same for poor conduct.
Keywords: cardiopulmonary bypass, cardiac surgery, CPB, pumps, calibration, hemolysis, Sirs.
  
INTRODUÇÃO 

                   A Circulação Extracorpórea (CEC) compreende o conjunto de máquinas, aparelhos, circuitos descartáveis e técnicas que substituem temporariamente, as funções do coração e dos pulmões durante uma cirurgia cardíaca. Uma bomba mecânica assume a função de propulsora do coração e as funções dos pulmões substituídas por um oxigenador de sangue, aparelho capaz de realizar trocas gasosas com o sangue. Conectados a tubos plásticos descartáveis interligando um conjunto de componentes do sistema, fazendo uma junção da máquina com o paciente, permitindo a circulação extracorpórea que consiste no desvio do sangue para fora do organismo e o seu retorno (Leme, 2010).
                   O sangue venoso é desviado do coração e dos pulmões antes de chegar ao átrio direito do paciente, através de cânulas nas veias cavas, superior e inferior. A linha venosa pela ação da gravidade leva o sangue até o reservatório do oxigenador, pelo desnível de aproximadamente 70 cm entre o paciente e o oxigenador. O sangue venoso sai do reservatório passa pelo oxigenador onde faz se as trocas gasosas, elimina gás carbônico e a temperatura regulada conforme o procedimento. Pela linha arterial, o sangue retorna ao paciente, pela aorta ascendente, para ser distribuído aos tecidos e órgãos. Após a circulação pelo sistema capilar dos tecidos, o sangue volta ao seu inicio que são às veias cavas. Todo este processo é realizado pelo tempo necessário da realização da cirurgia cardíaca(Serra, 2002).


Fonte: Fig. 1 desenho esquemático da CEC (SILVA, 2012).
 
                   A calibração dos roletes é a técnica de ajuste da distância entre o rolete e o leito rígido (oclusão) e sua regulagem tem comprometimentos sérios no processo de hemólise. Um rolete ocluído em excesso aumenta o traumatismo do sangue, produzindo acentuado grau de hemólise. Um rolete com folga excessiva irá ocasionar refluxo, dependendo dos dispositivos adicionados ao circuito de CEC(VIEIRA JR,2010, 2011).
                   A calibração dos roletes é um item muito importante no processo inicial de montagem do circuito para a utilização da CEC, existem dois métodos de calibração de roletes: a calibração estática e a calibração dinâmica. A Calibração pelos métodos de velocidade de queda (calibração estática), a velocidade de queda é normalmente medida tomando o ponto inferior do leito rígido ou a média entre 2 ou 3 pontos próximos ao ponto inferior(VIEIRA JR,2010, 2011).
                   O método de calibração dinâmica com o dispositivo Auxiliar de Calibração(DAC), dispositivo utilizado para o ajuste de bombas de roletes com maior precisão e diminuindo a hemólise. Baseado em microcontrolador, calcula a pressão média de calibração dinâmica e os valores de pressão máximos e mínimos obtidos pela passagem de cada rolete da bomba. As medidas são realizadas na saída da bomba de roletes com o auxílio de um transdutor de pressão descartável usado em cirurgias cardiovasculares, com ajustes dentro dos valores preconizado de 150 a 500 mmHg, causando menos hemólise(VIEIRA JR, 2009,2011).

                   Hemólise, lise ou ruptura das hemácias. Com a lesão da membrana das hemácias é liberado a hemoglobina para o plasma, formando a hemoglobina livre no plasma. O plasma possui uma pequena fração de hemoglobina livre liberada durante a hemocaterese, para a sua renovação. A hemoglobina livre no plasma é de aproximadamente 6 mg%. A CEC bem conduzida, com os equipamentos atualmente disponíveis no mercado, eleva a hemoglobina livre para 20 a 40 mg%, em função da hemólise. Quando o trauma celular na CEC é alto, a hemoglobinemia supera os 100 mg%, produzindo a hemoglobinúria(Souza, 2006).
       Existem três maneiras distintas para a ocorrência da hemólise: por seleção natural do baço, por desequilíbrio físico-químico (geralmente patológico), ou pela exposição das células a condições não-fisiológicas (trauma mecânico)(VIEIRA JR,2010, 2012).
                   Estudos relatam que a aspiração durante CEC, é um dos fatores importantes causadores de hemólise e a pressão negativa e a exposição do sangue ao ar, isoladamente, não produziram hemólise, mas associados sim, causam hemólise(Pohlmann, et al. 2009).

                   Depois de estudos na década de 80, foi mostrado que solução de cardioplegia sangüínea hipercalêmica oferecia proteção miocárdica mais eficiente quanto às soluções cristalóides, devido a redução na liberação de CK-MB e diminuindo a incidência de IAM peri-operatório. A cardioplegia sangüínea então tem sido utilizada na proteção miocárdica. Utiliza se a infusão anterógrada intermitente na aorta proximal, após o pinçamento aórtico ou diretamente nos óstios coronarianos, principamente quando houver valvopatia aórtica. Recentemente, tem-se proposto a infusão de cardioplegia de maneira retrógrada pelo óstio do seio coronariano. Esta técnica tem objetivo a possibilidade de manutenção da infusão sem interrupções e a distribuição de cardioplegia para regiões irrigadas por vasos coronarianos estenóticos, melhorando a proteção das regiões subendocárdicas(MALBOUISSON, 2005).
                   Quanto a temperatura ideal da solução cardioplégica há controvérsia, temperaturas inferiores a 15 ºC parecem ser mais efetivas na redução do consumo miocárdico de oxigênio, produção de lactato e indicadores de hipóxia celular que soluções em temperatura ambiente, soluções com temperatura em torno de 27 ºC indica melhora na recuperação da função ventricular esquerda no pós-operatório imediato, além de diminuir a incidência de disritmias e menor sangramento. Quanto ao intervalo entre as infusões de cardioplegia, também há um concenso, sendo 20 a 25 minutos de intervalo mais utilizado atualmente pelos cirurgiões. Não existe consenso também sobre a dose ideal de cardioplegia assim como a adição de substratos como l-arginina, anti-disrítmicos ou antagonistas beta-adrenérgicos (Vinten-Johansen, 2003).
                   A hipotermia terapêutica é outra técnica para diminuir a lesão miocárdica secundária à isquemia durante cirurgia cardíaca com CEC. Reduzindo o consumo de oxigênio que reduz o gasto energético e diminui as reações enzimáticas, que limita as zonas de isquemia no miocárdio em risco. Um paciente resfriado a 32 ºC, o consumo de oxigênio corporal diminui em 45%. O oxigênio aumenta sua afinidade à hemoglobina, e tem sua compensação pelo aumento da  solubilidade no sangue que mantém a oferta de oxigênio à demanda. (LUZ, 2002).     
                   Alguns dos fatores de risco verificados em pacientes que se submetem à cirurgia de revascularização miocárdica (RM) são: a extensão da doença coronariana, a presença de circulação colateral, RM prévia, IAM recente, cirurgia de emergência, tempo de pinçamento aórtico superior a 100 minutos e inadequação da proteção miocárdica, são fatores determinantes para o IAM peri-operatório(Kloner, 2004).
O período onde o paciente fica vulnerável à ocorrência de isquemia miocárdica é durante o procedimento cirúrgico, a lesão isquêmica durante a CEC não está diretamente ligada à gravidade da insuficiência coronariana, mas ao tipo de proteção miocárdica, ao intervalo de infusão da solução cardioplégica e à presença de hipertrofia miocárdica, sem proteção miocárdica apropriada, haverá aumento da morbimortalidade no pós-operatória e o risco de formação fibrose miocárdica tardia ou “stone heart” (CRESSONI, 2008).
Síndrome de baixo débito cardíaco com  necessitando de drogas inotrópicas para manter a estabilidade hemodinâmica, por mais de duas horas e/ou uso de balão intra-aórtico(Soares, et al. 2011).
                   Os principais fatores de risco para o surgimento de complicações neurológicas e de alterações fisiológicas no pós-operatório de cirurgias cardíacas são: idade do paciente, sexo, história médica prévia, tipo de medicação utilizada no pré-operatório e fatores de risco intraoperatório como tipo de cirurgia, tempo de CEC, tempo internado. As complicações são: alteração do nível de consciência ou coma ocorrendo em associação com lesão neurológica durante a cirurgia, alteração sensorial, motora ou de reflexos em qualquer momento do pós-operatório, acidente vascular encefálico (AVE). Lesão neurológica tipo I com déficit motor focal novo e persistente, coma, convulsão ou lesão encefálica com base em exames de tomografia computadorizada de crânio ou ressonância magnética(Soares, et al. 2011, Machado, 2009).
Do anestesiologista, a hiperventilação pulmonar, na retirada do ar pelo cirurgião, pode haver uma diminuição do fluxo sangüíneo encefálico. Nesse momento vasoconstrição pode difícultar a impactação dos microêmbolos. Outro risco aos pacientes que se submetem a cirurgias cardíacas é o ateroembolismo aórtico(LELIS, 2004).
                   O uso da CEC leva o sangue a desvios a superfícies não endotelizadas que pode desencadear reações fisiológicas, produzindo agravos e complicações, uma delas é o contato do sangue com o oxigenador e filtros, que pode aumentar água extravascular na circulação pulmonar, preenchendo os alveolos por células inflamatórias e que provoca inativação do surfactante pulmonar causando atelectasias. Isto pode levar à diminuição da relação ventilação/perfusão pulmonar; à diminuição da complacência e à alteração do trabalho respiratório no pós-operatório, dificultando a extubação e aumentando o tempo de permanência em ventilação mecânica(ORTIZ, 2010).

                   A filtração do plasma possui diferentes variações de pressão existentes no glomérulo. As principais áreas de resistência ao fluxo renal do néfron são as arteríolas aferente e eferente.  Na arteríola aferente a pressão é de 100mmHg, caindo para uma média de 60mmHg nos capilares do glomérulo, esta queda de pressão favorece a saída do filtrado do plasma para a cápsula de Bowman. Vários fatores podem alterar a filtração glomerular, entre eles, o fluxo sanguíneo renal aumentado, isso causará um aumento na filtração e a quantidade de urina produzida. Dependendo do grau de vasoconstrição das arteríolas aferentes nos glomérulos pode variar a pressão glomerular e a fração de filtração glomerular. Outro fator é o uso de drogas como a adrenalina, estimulação simpática neurogênica que produz constrição intensa das arteríolas aferentes, resultando numa grande redução da pressão nos capilares glomerulares que causam importante redução na filtração do plasma que diminui a formação de urina(Guyton & Hall, 2011)
As revascularizações do miocárdio geralmente realizadas com circulação extracorpórea e hipotermia sistêmica leve a moderada. Ficam ai as complicações pós-operatórias decorrentes dessa terapia, entre elas destacamos a insuficiência renal aguda (IRA), durante a cirurgia cardíaca a pressão arterial é mantida muitas vezes nos limites inferiores ou abaixo dos limites da autoregulação do fluxo sanguíneo. Às vezes prejudicada pelo uso de medicamentos antes da cirurgia(RODRIGUES, ET AL, 2009).
O aumento da incidência de lesão renal é associado a vários fatores, tendo o foco principal e mais importante a utilização e o tempo de CEC, idade, função renal pré-operatória, uso de drogas inotrópicas, uso de furosemida intra-operátorio e doenças associadas, como diabetes, insuficiência cardíaca e doença vascular periférica.
Fatores envolvidos na fisiopatologia da IRA promovendo eventos pró-inflamatórios que amplificam o trauma operatório, durante a CEC entre elas podemos citar: fluxo sanguíneo renal não pulsátil, produção elevadas das catecolaminas e mediadores inflamatórios circulantes (IL-1, IL-6, IL-8), a micro e macroembolia provocando danos aos rins, distúrbios eletrolíticos como hipomagnesemia e o aumento da hemoglobina livre decorrente de hemólise. Mas alguns autores não consideram que tais efeitos sejam adversos da CEC, atribui esses danos renais ao hipofluxo sanguíneo e aumento da resistência vascular renais e alterações hemodinâmicas durante a cirurgia, o tempo de CEC também é um fator de risco para a IRA(PONTES, ET AL, 2007, TANIGUCHI, 2007).
A síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) tem sua maior incidência cirurgia cardíaca com CEC. Devido ao trauma sofrido, o desvio do sangue a superfícies não endotelizada, o sistema imunológico responde com variados graus de severidade, liberando componentes moleculares, entre eles as anaflotoxinas ativadas pelo sistema complemento, sendo os mais importantes: a C3a, C3b, C5 e C5a, estimulando a liberação de citocinas pró-inflamatórias, como a IL-1, IL-6, FNT-a, que são responsáveis pela indução do aumento da temperatura corporal, neutrofilia, aumento da adesividade dos neutrófilos e miócitos ou endotélio, com aumento da produção de outras interleucinas pelos monócitos e leucócitos (IL-6, IL-8). Podendo haver isquemia intestinal, pelo uso da CEC, a produção de IL-6, FNT-a, IL-1, e a reperfusão pós CEC provoca a expressão de IL-1 e FNT-a no endotélio microvascular, gerando disfunção que danifica os cardiomiócitos. O cérebro e fígado podem ser afetados pela isquemia/reperfusão causadas pela produção de interlucinas (IL-8 e IL-13), com grande importância nos eventos que ocorre. Não existe uma tratamento profilático das complicações advindas da SIRS,  são tomadas medidas que inibem a produção desses mediadores da inflamação, como descontaminação digestiva, uso de drogas como indometacina ou esteroides, corticóide aumenta a liberação de IL-10 que é uma interleucina anti-inflamatória, hemoconcentrar para retirar as interleucinas antes da saída de CEC essas são opções possíveis. A regulação do processo inflamatório, de um modo geral, depende do equilíbrio entre citocinas pró- e anti-inflamatórias. Essas agressões clínicas severas são observadas por duas ou mais destas condições: temperatura corporal > 38°C ou < 36°C; freqüência cardíaca >90 batidas por minuto; freqüência respiratória > 20 inspirações por minuto ou PaCO2 <32mmHg; contagem de glóbulos brancos >12000/cumm, < 4000/cumm ou >10% das formas imaturas. (MOURA, 2001).
  
REFERÊNCIAS

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